Esperançar | (8) Sonhar o sonho impossível
- Postado por Wesley Cavalheiro
- Categorias Ponto de vista, Wesley W Cavalheiro
- Data maio 24, 2021
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por Wesley Cavalheiro*
“Tentar conhecer o futuro é uma função biológica, ou seja, é uma necessidade ligada ao instinto de sobrevivência. Conhecendo-se o futuro antecipadamente, pode-se garantir a sobrevivência por mais tempo”. – Raul Grumbach
Aprendi com o Professor Luiz Machado que cada pessoa possui um sistema que age alheio às ‘vontades’ da própria pessoa: o Sistema de Autopreservação e de Preservação da Espécie (SAPE). O SAPE movimenta a pessoa, gera intuições, freia, impulsiona. Todas as pessoas o têm – faz parte da estrutura com que fomos gerados – e por este sistema são mobilizadas. É o que está registrado no SAPE que gera os medos, os ímpetos, seus derivados, assim como outros agentes mobilizadores.
Penso que a religiosidade seja uma ação do SAPE: contém elementos que autopreservam a pessoa e a espécie humana (ou parte dela). Aí nos deparamos com a perspectiva do futuro: o desejo que ‘tudo’ mude – para melhor –, nos preservando das ameaças do que nos prejudica. O SAPE possui percepção própria e avisa: as coisas estão prestes a mudar radicalmente.
A questão é como racionalmente lidamos com o fato. O lidar com o desconhecido leva as pessoas, na maioria das vezes, para o misticismo. Nossos ancestrais da antiguidade buscavam os oráculos. São exemplos o Oráculo de Apollo em Delphos, Grécia, e o sacerdócio no Egito Antigo. Israel também tinha seus oráculos: o Urim e Tumim, e os profetas. Na Idade Média, magos, bruxos, e alquimistas descreviam suas visões sobre o futuro com base em profecias e especulações. Muitos cristãos, baseados na palavra de Jesus de que o Espírito Santo ‘os guiaria a toda a verdade’ e na de Paulo, o apóstolo, que Ele concede dons aos homens, dentre estes o de profecia, buscam a predição e a orientação de toda a sorte de situações do cotidiano: com quem vão casar, qual emprego devem se comprometer, em que igreja vão congregar, etc. Creio firmemente na presença e na participação do Espírito de Deus na vida das pessoas, guiando e orientando, entretanto, para mim, vejo em certas práticas mais uma espécie de ‘paganismo cristão’, que favoreceria mais a crença supersticiosa do que demonstração de fé madura.
A Prática da Presença do Cristo
Na modernidade, a ciência começa a influenciar a previsão de futuro. Maupertios, um filósofo, matemático e astrônomo francês do Século XVIII, em suas “Cartas sobre o progresso da ciência”, é o primeiro (que se tem conhecimento) a ponderar sobre a extensão no futuro das tendências do passado. A evolução deste pensamento leva ao desenvolvimento da chamada “previsão clássica do futuro”: o futuro é único e certo, sendo um prolongamento da tendência dos fatos atuais. Este modelo de pensamento, no meu ponto de vista, é o modelo compartilhado na interpretação bíblica sobre o ‘fim de todas as coisas’ que gerou as doutrinas sobre escatologia até hoje predominantes no meio cristão. Elas são fatalistas. Por isso, dizem alguns, “já que não tem jeito, vamos levando a vida na melhor maneira possível, nos afastando deste mundo, pois ele já está condenado, até que o Cristo venha destrua este mundo, e reinicie tudo com novos céus e nova terra”. Particularmente, este pensamento não me faz bem e não encontra eco em meu coração. Creio firmemente em alternativas a ele.
O futuro está por ser construído e que cada pessoa deva ser parte ativa na construção do mesmo. O futuro é construído a partir do que fazemos aqui e agora.
“O futuro não é mais o que era” – Paul Valery
Gestão em tempos de crise
Francis Wolf, em uma matéria intitulada “Cidades do Futuro” publicada na imprensa, pergunta “O que é o futuro?”. Na matéria ele diz que cada época traduz o futuro conforme sejam as esperanças e angústias dos indivíduos que nela vivem. Por exemplo, Brasília, nos anos 1950, ‘foi concebida para carros. Nela, portanto, é difícil encontrar espaços para andar a pé, pois a concepção da cidade privilegiou o transporte mecanizado’. É assim que seus idealizadores imaginavam seu futuro. Já Masdar, uma cidade em construção nos Emirados Árabes Unidos, foi concebida como a capital do desenvolvimento sustentável: sem carros, sem emissão de CO2, sem desperdícios.
Podemos ser mutáveis em relação ao efêmero, mas, em relação à nossa essência, somos permanentes. Não houve, e não há, tampouco nunca haverá, ser humano que não sonhe, que não anseie, que não deseje, o fim do sofrimento assim como de suas causas e de seus efeitos. Quem bem traduziu essa utopia foi o Beatle John Lenon com sua música ‘Imagine’ (Imagine):
Imagine que não há paraíso / É fácil se você tentar / Nenhum inferno abaixo de nós / Acima de nós apenas o céu / Imagine todas as pessoas / Vivendo para o hoje
Imagine não existir países / Não é difícil de fazê-lo / Nada pelo que lutar ou morrer / E nenhuma religião também / Imagine todas as pessoas / Vivendo a vida em paz
Você pode dizer / Que eu sou um sonhador / Mas eu não sou o único / Eu tenho a esperança de que um dia / você se juntará a nós / E o mundo será como um só
Imagine não existir posses / Me pergunto se você consegue / Sem necessidade de ganância ou fome / Uma irmandade humana / Imagine todas as pessoas / Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer / Que eu sou um sonhador / Mas eu não sou o único / Eu tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós / E o mundo viverá como um só
Desejar, trabalhar, lutar, e esperar por condições ideais de vida e de relacionamentos são anseios que têm acompanhado o ser humano desde sempre.
Autoconhecimento
Abertura de novas perspectivas de lidar consigo mesm@ e com o outro
A tradição judaico-cristã idealiza e espera este novo mundo dentro do contexto “de um novo céu e uma nova terra”. Para esta tradição a realidade única e irrefutável é a presença viva, dinâmica, majestosa e esplêndida de Deus “aqui e agora”. A esperança, nesta tradição, é que chegará o dia em que serão enxugadas todas as lágrimas; quando não haverá mais dor nem sofrimento; quando a raça humana não estará mais dividida, competindo e guerreando entre si e haverá paz universal; quando a terra se encherá do conhecimento da glória de Deus, como as águas enchem o mar; quando seu Deus, que hoje se manifesta em formas nem sempre claras, estará reunido com sua criação em plena comunhão. Esperam a harmonia de toda a criação com a humanidade e desta com o seu Deus. Esperam pelo dia em que não seja preciso mais campanhas de doações, porque todos terão e estarão saciados de sua fome de comida, de perdão, de reconhecimento, de amor.
É essa esperança de união plena e consumada de céu e terra que tem movido pessoas, geração após geração, no sentido de contribuir para implantar aqui e agora, cada qual em sua época, os prenúncios que sinalizam essa realidade, ainda por se concretizar de forma plena, mas viva em seus corações e mentes. São inconformadas. Não se conformam, não se acomodam com o engano que é pensar, sentir e viver como se essa Presença estivesse distante, inacessível. Para elas, o reino de Deus está presente aqui e agora.
Pode parecer loucura e impossível. Talvez, mas… Sim, é loucura para os que ainda não tiveram a chance de vivenciar. Por outro lado, Realidade e verdade para os que têm a oportunidade de desfrutar. Para estes, a vida é:
Sonhar o sonho impossível, / Sofrer a angústia implacável, /Pisar onde os bravos não ousam,/ Reparar o mal irreparável, /Amar um amor casto à distância, /Enfrentar o inimigo invencível, /Tentar quando as forças se esvaem, /Alcançar a estrela inatingível:/ Essa é a sua busca. / Essa é a sua missão!
Os versos acima compõem um trecho de uma das canções do musical “O Homem de La Mancha”. Um filme foi produzido em 1972 e, o personagem vivido por Peter O’Toole, Miguel Cervantes / Alonso Quijana / Don Quixote, discutindo sobre ‘realidade’ e ‘ilusão’, expressa: “a maior das ilusões é viver a vida como ela é, e não como deveria ser”.
A esperança que é esperança nos conduz a vivenciar o que “deve ser”, a despeito de eventos circunstanciais agirem como filtros mostrando-nos uma ilusão da realidade.
Em resumo, o futuro está por ser construído, e construído por você e por mim.
O futuro pode parecer impossível e inalcançável, mas a convicção que ele será bom, perfeito e agradável está em perceber a realidade sem os filtros das ilusões que alimentam em nossas almas. É na libertação e desembaraço destes filtros é que a fé e esperança e amor se juntam.
Notas:
XXX
Referência:
Wesley Cavalheiro, Apressar e preparar a vinda do Senhor, Parte 1 (https://www.amazon.com/).
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(*) Wesley W. Cavalheiro é assessor, mentor e coach Pessoal, Profissional, Executivo e de Negócios, com Certificações Internacionais;
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Wesley Cavalheiro, amante da perfeição do imperfeito.
Teve sua alma forjada no mar, tanto o real quanto o metafórico, tanto em bonanças quanto em intempéries, dirigindo organizações, liderando equipes, gerenciando projetos. A vivência nos mares lhe ensinou a ver o não aparente e a discernir as tendências.
Há mais de 15 anos se dedica a contribuir para o enriquecimento de almas.
Seu mestrado em planejamento proporcionou um dos seus maiores prazeres: vivenciar a impermanência de todas as coisas.
Aprendiz incorrigível, encontrou no Cristo a referência do Eneagrama, o sistema que aponta o saber viver.
Profissional credenciado pela International Enneagram Association; treinador comportamental certificado.
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