Desempenho e Espiritualidade (2)
por Wesley W. Cavalheiro*
Há dias nos quais, ao chegar ao seu final me sinto exausto e com a sensação de frustração por tão pouco desempenho. Em outros, mesmo após atividades intensas e cansativas, chego ao seu final pleno, realizado. Em um reducionismo básico, pode-se dizer que tudo se trata de uma questão energética, de como geri minha energia nestes dias.
Comecei a observar que, a despeito dos fatores externos, dos desafios, obstáculos, conflitos, contenciosos, o determinante para o consumo de minha energia são os elementos intrínsecos à minha pessoa. Como lido com meu corpo, com minha mente, com minhas emoções e com minha essência determinam os níveis de consumo e de reposição das minhas energias.
Decidir o que e quando
A quantidade de energia que temos é limitada. Tal qual uma caixa d’água ou uma conta bancária, se o que for consumido não for reposto, a consequência é o colapso. Dois fatores constituem a base do equilíbrio energético do nosso ser: tempo e dinheiro.
Muito se fala sobre gestão do tempo. Entretanto, é impossível gerir o tempo. O tempo ‘cronos’ é função dos movimentos absolutos e relativos dos astros, em particular do Sol, da Terra e da Lua. O ser humano, individual ou coletivamente, não tem competência para alterar estes movimentos, daí, não tem competência para gerir o tempo. “O tempo é o tempo que se tem!”. É o que é. A única coisa que podemos fazer é gerenciar nossas prioridades no tempo que nos é dado. Segundo Christian Barbosa, o ideal é que o uso que fazemos do tempo seja 70% em atividades prioritárias (o que realmente é importante para nós), 20% urgentes (as ocorrências inopinadas) e 10% com as circunstanciais (o que é importante para os outros mas não para nós). Nos processos de mentoria e coaching que conduzo, o mais comum é ver as pessoas constatarem que se dedicam pouco ao que realmente lhes importa. Muitos se sentem ‘bombeiros’: seu dia a dia é apagar incêndios; outros se sentem ‘consumidos’ pelos outros, sendo controlados ou manipulados para atender caprichos que pouco ou nada lhes agregam.
Segundo o World Wealth and Income Database (WID), 1% da população mundial detém 20% da renda mundial e 20% dos mais pobres ficam com 9% da renda mundial. Em outras palavras, recursos financeiros são um fator limitador para a quase totalidade da humanidade. É comum encontrar pessoas que, como Mauro Halfeld fantasticamente diz “gastamos dinheiro que não temos para impressionar quem não gostamos”. Em meu trabalho de mentoria e coaching, o mais comum é me deparar as pessoas que são governadas pelas impressões e aparências, não por suas essências. Aos clientes que me procuram em busca de apoio para solucionar questões financeiras, digo: “dinheiro não é problema; dinheiro é solução”. É comum focarmos no problema, não na solução. Quando se foca no problema, normalmente as soluções que são encontradas só o agravam.
Seja no aspecto do tempo ou do dinheiro (normalmente os dois estão ligados), as pessoas que tentam se orientar e conduzir por seus valores intrínsecos se confrontam com o atendimento às questões sociais. O dilema entre o interno e o externo faz da pessoa um cabo de guerra cujo resultado não é a vitória de um ou outro lado, mas a ruptura do cabo… burn out. Corpo, mente e emoções adoecem levando a pessoa ao knockout.
Quem sou
Um dos erros básicos de alguns métodos de lidar com o tempo e o dinheiro (isto é, com as prioridades) é não considerar as características intrínsecas da pessoa, ou seja, quem ela realmente é. As abordagens geralmente ficam em torno dos comportamentos, não se levando em consideração a energia vital, em suas diferentes expressões, que direciona a pessoa. Sem considerar esta energia e apoiar a pessoa a se reconhecer, aceitar e aprender a lidar consigo mesma (o que é diferente de resignação e autocontrole) não há solução saudável ou permanente. Só paliativos. A questão é: quem manda em quem? É o meu jeito que manda em mim ou sou eu quem manda no meu jeito? Quando meu jeito me governa, minha história é mera repetição de fatos, recorrências de eventos, comumente com roupagens diferentes.
Neste aspecto é que o Eneagrama tem sido relevante, para mim e para os clientes. Descobrindo quem somos e a energia que nos move, temos elementos para escolhas de prioridades mais conscientes, tanto para o lidar com nosso corpo, como com nossa mente, nossas emoções e nossa essência.
Ilusão ou realidade
Jack Groppel conta a história de um grupo de atletas de futebol americano que foram fazer um treinamento no instituto em que trabalha. Os atletas eram homens fisicamente superdotados em tamanho e musculatura. Lhes foi dada uma missão: atravessar uma trilha em meio a um bosque, tocar a cerca branca ao final da trilha, e voltar ao local de onde partiram. Durante as instruções foram dadas advertências quanto a possíveis perigos do bosque, mas que não se preocupassem. Bastava que tomassem a atitude correta, como estava sendo orientado, e seguissem em frente. A equipe saiu e, após alguns minutos estavam de volta. Ao serem perguntados se tinham completado a missão, disseram que não. Ao serem perguntados, por que, responderam que tinham sido atacados por javalis. Os treinadores então mostraram, por meio de gravações, que os ‘javalis’ tinham sido treinadores que simplesmente balançaram arbustos e fizeram barulho, sem se identificarem. Os atletas foram condicionados pelo perigo e medo existente em suas mentes, mas que não tinham correspondência com a realidade. Em outras palavras, foram governados por ilusões criadas dentro de si.
Ao longo de nossa vida aprendemos, geramos e armazenamos ilusões da realidade e interagimos com as circunstâncias, com as pessoas e conosco mesmos com base nestas ilusões, não com a realidade como ela é. Interagimos, damos prioridades, tomamos decisões e fazemos escolhas a partir de sensações, medos e desejos e, assim, nos afastamos cada vez mais de quem realmente somos e da razão de nossa existência. O binômio A dualidade ‘ilusão – realidade’ é nosso algoz e, enquanto não for equacionada, estaremos destinados à insuficiência, insatisfação e frustração, em uma constante falta de energia (tempo e dinheiro) e desempenho medíocre.
Os três pilares do equilíbrio, do alto desempenho e do desenvolvimento pessoal
O equacionamento da dualidade ‘ilusão – realidade’ é feita com base no que o cristianismo chama de espiritualidade trinitária: uma mente não dual, unicista. No caso, a Trindade se expressando por meio de três pilares interligados: autoconhecimento, mentoria / coaching e comunidade.
“Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”, era estampado no Oráculo de Delphos. “Se queres conhecer a Deus, aprende primeiramente a conhecer a ti mesmo”, dizia monge Evágrio Pôntico. Sem autoconhecimento não é possível a gestão de nós mesmos e de nossa energia.
Um mentor / coach nos apoia no desafio do autoconhecimento e em como encarnar nas ações do dia a dia, seja nos desafios e / ou nas relações.
Uma comunidade (network), uma pertença a um grupo de mesma intencionalidade, seja formal ou informal, desenvolve o que Napoleon Hill chamou de mastermind – agregar-se a pessoas com a mente em harmonia em prol de um objetivo comum.
A partir da interação dos três pilares um movimento é gerado em nós de forma a produzir uma espiral crescente de desenvolvimento e equilíbrio nas diferentes dimensões que compõem a vida humana. É o fluxo da vida – energia – em expansão, dando vazão ao transcendente, que se torna ao mesmo tempo imanente no ser humano.
Medite: 1) Você vive a partir da ilusão ou da realidade? Dos fatos ou do que você interpreta dos fatos 2) Você tem mentores ou coachs que te apoiam no aprimoramento das suas qualidades? 3) Você participa de uma mastermind?
Palavras de sabedoria: Se queres conhecer a Deus, aprende primeiramente a conhecer a ti mesmo”
Sabedoria da palavra: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” (Bíblia, RA, 2 Coríntios 13.13)
Viva com∞paixão
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(*) Wesley W. Cavalheiro é assessor, mentor e coach Pessoal, Profissional, Executivo e de Negócios, com Certificações Internacionais; profissional certificado pela International Enneagram Association. Contato: contato@enealumen.net
Desempenho e Espiritualidade (1)
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