Abrindo espaço dentro

por Wesley Cavalheiro*

Não quero que o senhor tenha todo esse trabalho. Basta uma ordem sua, e meu criado ficará bom. – Mateus 8,8 (MSG)

Movimentos humanistas afirmam que o ser humano possui um “direito inalienável” à busca da felicidade. Deus nos criou para sermos felizes e alegres “neste mundo e no próximo”, e Jesus diz o mesmo várias vezes em João 14-17. A única diferença entre os dois é que qualquer felicidade exigida da vida nunca se torna felicidade porque é buscada de maneira muito narcísica e autoconsciente. A “alegria que o mundo não pode dar” (João 14,27) chega sempre como um dom a quem a espera, aguarda e abre espaço dentro de si mesmo. O primeiro é autoafirmação, o segundo é auto entrega. O primeiro é tomando; o segundo é recebendo. Essas são duas dinâmicas humanas profundamente diferentes. Você não pega uma borboleta perseguindo-a: você fica quieto e ela pousa em seu ombro. Então ela escolhe você. Essa é a verdadeira felicidade.

Quando partimos em busca de nossa felicidade pessoal, muitas vezes criamos um ídolo que certamente cairá. Qualquer tentativa de proteger qualquer felicidade plena e particular em meio a tanto sofrimento público deve ser baseada na ilusão sobre a natureza do mundo em que vivemos. Só podemos fazer isso se nos bloquearmos de um certo grau de realidade e nos recusarmos solidariedade com “o outro lado” de tudo, até mesmo o nosso outro lado.